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Dani Germano

Tem prova que começa antes da largada. Antes mesmo de amarrar o tênis. Começa quando você escolhe ir mesmo com frio na barriga, mesmo com dúvidas e foi assim que começou, mais uma vez, a minha experiência na WTR Arraial do Cabo.

Dessa vez, corri os 6km, o percurso curto, mas quem pensa apenas em número não faz ideia da imensidão que essa prova representa pra mim.

Foi em Arraial, no ano passado, que eu me apaixonei por prova de trilha. Foi ali, correndo 21km em dupla com uma grande amiga, que entendi que correr no mato tem mais a ver com coragem do que com pace.
Ela vivia um momento delicado. E no meio daquele verde, daquelas subidas, daquele mar de água cristalina e vistas inesquecíveis, tudo o que eu precisava era fazer ela lembrar que era capaz. Capaz de fazer coisas difíceis. Capaz de se escutar de novo. Capaz de se priorizar. Capaz de continuar.

Aquela corrida não era só sobre distância, era sobre presença. Sobre amor. Sobre dar a mão e dizer: “vamos, eu acredito em você.” E ali, sem querer, eu disse isso pra mim também.

Voltar esse ano foi como revisitar uma parte minha que floresceu ali. Dessa vez, fui dirigindo. Eu, a estrada, minha playlist e essa sensação boa de liberdade. Dirigir, pegar estrada, abaixar a janela e sentir o vento na cara eram sonhos de infância e posso dizer que são sensações que voltaram com força depois que comecei a viajar pra correr. A cada quilômetro, me sinto mais dona do meu caminho.

Preciso ressaltar uma coisa linda que também acontece nessas viagens: você conhece os lugares de um jeito diferente.
A gente não passa por Arraial, a gente se mistura com ela. Sente o cheiro de maresia, ouve o barulho do mar lá de cima da trilha depois de encarar as subidas. Não é só turismo. É conexão. É corpo presente. É memória viva.

A prova foi linda, não tem como ser diferente. Mormaço, trilha, paisagem e um bocado de esforço, afinal, a beleza do percurso não tira a dureza dele, mas tudo fica mais leve quando a gente sente que tá no lugar certo. Correr no meio da natureza, com os olhos marejando de gratidão, é um lembrete de que viver pode ser bonito mesmo com as subidas mais difíceis.

Também tive a sorte de presenciar a primeira participação na WTR de alguém que admiro demais. Alguém que está sempre nos bastidores, fazendo tudo acontecer com excelência e que agora se lançou no percurso com coragem, entrega e coração. Ver essa pessoa viver a WTR pelo corpo foi emocionante, porque quando a gente corre, a gente entende. E estar lá, aplaudindo essa estreia, foi uma honra. Esses são os momentos que ficam.

Outro diferencial da WTR é a preocupação com o impacto que deixamos.
Tem copo reutilizável, tem educação ambiental, tem coleta no percurso e estrutura pensada pra preservar o que é sagrado: a natureza. Não é só sobre correr por ela, é sobre correr com ela.

Voltar pra Arraial me fez lembrar de quem eu era e perceber com orgulho a mulher que estou me tornando; a que dirige, que corre, que volta, que sente. E que aprendeu, na trilha e na vida, que a gente não precisa ir sozinha, mas precisa, sim, acreditar que pode ir.

Obrigada, Arraial. Obrigada, WTR. Obrigada, amiga. Nos vemos na próxima largada, sempre mais forte, mais inteira e mais livre.

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